Tive um sonho!
Ou terá sido um pesadelo?
Será que eu sofria ou vivia?
Contemplo imagens difusas, idéias confusas.
Vejo véus, entrelaçados, serpenteando
Em uma dança frenética e prateada
Que convida a lua para um banquete
Onde é servida a essência da maravilha.
Cada véu que cai vai descobrindo a divina luz da beleza.
Ouço o som de plumas coloridas, pássaros cantando, asas de anjo,
A suave e doce música do sol do verão.
Sinto o perfume e o aroma das flores da primavera.
Lírios, narcisos, rosas brancas,
Um jardim inteiro de felicidade e fantasia.
Deito-me na lagoa de ouro, espelho d’água
Onde sou abraçado pela Vênus de mármore
Que tem braços, boca, seios, ventre, vida.
Vida que pulsa e bombeia meu sangue,
Bombardeando meu coração
Com uma rajada de desejo e de paixão.
Sento-me, sorridente, à mesa
Para saciar a minha sede de magia e a minha fome de alegria.
Mas o som cessa, o perfume se dissolve
E os véus voltam a turvar minha visão,
Cobrindo a luz da beleza com o manto da ilusão.
Foi um sonho! O sonho do amor inatingível
Que reforça a insistente marca da solidão.
Só me resta esperar que os véus voltem a cair,
Que a luz apareça com a sua delicada maciez,
Que as plumas e as asas voltem a cantar
Para que eu possa participar da sagrada ceia,
Comendo o pão divino e bebendo o vinho fantástico.
Para que eu possa, no colo da Vênus,
Rezar salmos nos seus lábios
E viver plenamente o ritual
Da única santa da minha devoção,
Santa Bela Atriz.
Santa rainha, senhora, princesa,
A santa cuja beleza
Transformará a solidão da minha existência
No tranqüilo sono do amor.
Roman Lopes